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Trabalho – um atalho em caminhos tortuosos – Por Marco Lage

Imagine sua empresa com vagas abertas para contratar um profissional, mas o perfil que busca, está escasso no mercado – pouco tempo atrás, vivíamos um apagão de mão de obra e essa era a realidade. Depois de muito procurar, você encontra um candidato, o chamemos de “José”, com a experiência, formação e perfil profissional desejados, mas com um detalhe: ele é um egresso do sistema prisional. Independente da natureza do crime cometido, você o contrataria? Arrisco-me a dizer que, dentre os leitores deste artigo, cerca de 90% responderão que não. A grande maioria desses “Josés”, carrega na sua trajetória de vida uma série de vivências de exclusão, peculiares a grande parte da população brasileira: sem condições financeiras, pouca escolaridade, trabalho informal, quando não está mesmo desempregado. Soma-se, ainda, a estes aspectos restritivos a experiência de uma condenação e a perda da liberdade, que trazem consigo, o afastamento das relações sociais bem como o estigma, que dificultando ou impedindo sua reintegração social. Por mais que ele já tenha quitado sua dívida com a justiça, o “José” encontra um obstáculo ainda maior: o preconceito da sociedade. Como cidadãos, nossa percepção de insegurança nos paralisa, e, vemos crescer as proteções individuais, a desconfiança no outro que nos torna avessos a ser parte da solução. Estamos “enxugando gelo” diante de um sistema mundial que realiza um prejuízo multibilionário com escassos exemplos de sucesso. O medo e o preconceito decidem por nós, não restando muita alternativa ao “José”, que acaba por aumentar a estatística de 80% dos egressos em liberdade que voltam ao crime. O trabalho por si só não inclui, mas contribui para melhores condições de subsistência e a construção de novos vínculos sociais, com desenvolvimento pessoal e profissional.

Movido pela missão de promover a cultura de paz, o Minas Pela Paz acredita que fomentar o trabalho e a capacitação, além de articular a rede social de apoio, serviços e políticas para o atendimento dos “Josés”, independente de sua menor ou maioridade, são medidas fundamentais para promover a cidadania, a autonomia e a identidade desse público. Por isso, desde 2009, se debruça sobre o tema com o desenvolvimento do Programa Regresso, que já empregou formalmente 840 presos e egressos do sistema prisional e capacitou profissionalmente mais de 3 mil pessoas. Mais recentemente, o Minas Pela Paz e parceiros lançaram o caçula Projeto Trampolim, que busca oportunidades de qualificação e reinserção profissional para jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Com o apoio de entidades do primeiro setor, atuantes com cada um destes públicos, os egressos – adultos e adolescentes – recebem suporte nos aspectos jurídico e psicossocial, os preparando-se para enfrentar os desafios da ressocialização. Acompanhamos os exemplos bem sucedidos de empresas que contrataram egressos, permitindo que muitos “Josés” mudassem suas realidades e retribuíssem a chance que lhes foi dada com gratidão, entusiasmo, responsabilidade e motivação no trabalho. Esse é um processo conjunto de aprendizado, que depende da real predisposição de se incluir social e profissionalmente. Afinal, se não lhe dermos o direito de virar definitivamente a página de sua história, qual será a alternativa mais rápida e fácil para ele que só encontra portas fechadas pela sociedade?

Marco Antonio Lage, diretor Coordenador do Minas Pela Paz

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